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O que Lou Andreas-Salomé chama de "experiência" (Erlebnis)?


Capas da autobiografia de Lou Andreas-Salomé
Capas da autobiografia de Lou Andreas-Salomé

Escrito pelo editor Ernst Pfeiffer em 1951, o Posfácio da autobiografia de Lou Andreas-Salomé é um texto enriquecedor. Reproduzimos aqui alguns trechos (trad. nossa)


Se geralmente se entende por "experiência" (Erlebnis) apenas o impacto do vivido mais pessoal ou mesmo a sensação egóica, então esse sentido da palavra no livro "Minha Vida" é, de certa forma, invertido, pois aqui o eu é apenas a porção inevitável para perceber o "fundamento" como aquilo que constitui essa vida particular e, ao mesmo tempo, a carrega como algo maior e indefinível.


Também fica claro na apresentação da primeira experiência, "A Experiência Deus" (Das Erlebnis Gott), que o que aqui é chamado de experiência só poderia ser plenamente compreendido pela força abrangente de uma vida inteira.


Somente na retrospectiva da vida, a partir da margem, a visão ganhou total clareza: não apenas em relação à distância e à amplitude, mas principalmente em relação à profundidade da vida vivida, que se aprofunda em direção ao fundamento. E somente esse olhar receptivo fez com que experiência após experiência surgisse — e permitiu que a observadora relatasse sua vida como um todo.


Um mero olhar sobre a amplitude, com sua riqueza de encontros humanos, experiências emocionais e insights, nunca teria motivado Lou Andreas-Salomé a se expressar. Unida a essa visão da vida que se estrutura em "experiências em direção ao fundamento" estava, aparentemente, uma bênção especial de sua velhice: em sua presença, tinha-se a impressão de que qualquer onda genuína de experiência, mesmo a mais distante, atingia a margem dessa vida de forma completa — de modo que tudo o que era essencial, além de uma mera lembrança, estava presente como no primeiro dia: agora tudo em uma única presença.


Quase não é necessário dizer que tal "experiência da vida" é de natureza religiosa — entendendo a expressão de forma ampla, como a experiência de uma determinação total pela origem última. Quão profundamente o sentimento cotidiano de Lou Andreas-Salomé era moldado por isso pode ser ilustrado por uma palavra-final: "O que quer que aconteça comigo — nunca perco a certeza de que há braços abertos atrás de mim para me receber."


Assim, o "Retrospecto da Vida" (Lebensrückblick) apresenta menos o resultado de uma reflexão aplicada a si mesma por alguém que busca conhecer, e mais uma composição de uma vida que "se poetiza a si mesma", que, no entanto, precisava ser captada por uma consciência cognoscente correspondente. Assim, surgiu naturalmente uma forma autobiográfica completamente única, que, no entanto, só se revela plenamente ao leitor em uma visão retrospectiva do todo, na percepção intuitiva da experiência individual e da conexão entre todas.


A própria palavra "esboço” ou "planta baixa" (Grundriss) no título "Esboço de Algumas Memórias de Vida" busca, quando entendida como "contorno do fundamento", designar tanto a visão clara de cada evento ou processo quanto a conexão de todos os eventos no "fundamento" de um mistério da vida que se revela neles. Entende-se que uma experiência se confirma como "experiência" no sentido aqui válido precisamente por poder ser apresentada no "Esboço"; que, assim, libertada da arbitrariedade, o número de "experiências" se limitou; que esse "contorno do fundamento" só poderia ocorrer em um sentido filosófico; que, nessa forma de expressão, a experiência mais pessoal e a experiência da vida são uma só.


 
 
 

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